Agricultura regenerativa na gestão de bacias hidrográficas, por Afonso Peche Filho 1z6i2h

Publicado em 03/02/2025 15:45

A agricultura regenerativa surge como uma abordagem inovadora para o manejo sustentável das bacias hidrográficas, promovendo a conservação dos solos, a melhoria da qualidade da água e a resiliência dos sistemas produtivos frente às mudanças climáticas. Essa prática visa recuperar e fortalecer os processos ecológicos do solo e dos ecossistemas agrícolas, otimizando a gestão da água e minimizando impactos ambientais adversos. 63493c

A gestão de bacias hidrográficas envolve um conjunto de estratégias que buscam equilibrar a produção agrícola com a conservação dos recursos hídricos. Nesse contexto, a agricultura regenerativa contribui significativamente ao restaurar a capacidade do solo de infiltrar e armazenar água, reduzir a erosão e prevenir o assoreamento de rios e reservatórios. Suas principais práticas incluem o plantio direto, o uso de plantas de cobertura, manejo ecológico do mato, pragas e doenças, a diversificação de culturas, a integração lavoura-pecuária-floresta (ILPF) e a restauração de matas ciliares.

Um dos pilares da agricultura regenerativa na gestão de bacias hidrográficas é o aumento da matéria orgânica do solo. A adição contínua de biomassa ao solo melhora sua estrutura e capacidade de retenção de água, reduzindo a necessidade de irrigação e a dependência de insumos sintéticos. Além disso, solos ricos em matéria orgânica favorecem a infiltração da água da chuva, diminuindo o escoamento superficial e mitigando problemas como erosão e enchentes. A progressiva recuperação da capacidade de depuração e filtragem da água de recarga também é um efeito positivo dessas práticas, ao permitir a retenção e decomposição de contaminantes antes que atinjam os corpos hídricos.

Outra prática fundamental é o uso estratégico de plantas de cobertura, que protegem o solo contra o impacto direto das chuvas, reduzem a compactação e promovem a fixação biológica de nitrogênio. Essa técnica não apenas melhora a fertilidade do solo, mas também contribui para a regulação do microclima, beneficiando tanto as lavouras quanto os corpos d’água na bacia hidrográfica. Além disso, sistemas agroflorestais e consórcios de culturas aumentam a biodiversidade e estimulam o equilíbrio ecológico, reduzindo a necessidade de insumos químicos e fortalecendo os serviços ecossistêmicos.

A recuperação de matas ciliares e a criação de zonas de amortecimento são essenciais para proteger os cursos d’água contra a contaminação por sedimentos e agroquímicos. Essas áreas funcionam como filtros naturais, evitando a lixiviação de nutrientes e melhorando a qualidade da água. A integração dessas faixas de vegetação ao sistema produtivo, por meio da adoção de agroflorestas, pode trazer benefícios tanto ambientais quanto econômicos para os produtores.

Além das práticas agrícolas, a agricultura regenerativa propõe mudanças na forma como os recursos naturais são geridos na bacia hidrográfica. A implementação de pagamentos por serviços ambientais (PSA) e incentivos financeiros para agricultores que adotam práticas regenerativas são medidas eficazes para ampliar a escala dessa abordagem. Projetos de monitoramento contínuo da qualidade da água e do solo, aliados ao zoneamento ambiental, também são fundamentais para avaliar o impacto das práticas regenerativas e ajustar as estratégias conforme necessário.

O uso de bioinsumos é outra estratégia relevante na agricultura regenerativa, ao reduzir o risco poluidor da agricultura ao substituir fertilizantes sintéticos e defensivos químicos por soluções biológicas naturais. O emprego de microrganismos benéficos, biofertilizantes e agentes de controle biológico melhora a sanidade do solo, aumenta a eficiência da ciclagem de nutrientes e reduz impactos negativos sobre os corpos hídricos.

Os benefícios da agricultura regenerativa na gestão de bacias hidrográficas são amplos e envolvem tanto a mitigação dos impactos ambientais quanto a melhoria da produtividade agrícola. A adoção dessas práticas resulta na redução do risco de secas e inundações, na manutenção da biodiversidade, no sequestro de carbono e na promoção da resiliência climática. Com uma abordagem integrada e baseada em princípios ecológicos, a agricultura regenerativa oferece soluções sustentáveis para a produção de alimentos e a conservação dos recursos hídricos, garantindo um futuro mais equilibrado e seguro para as próximas gerações.

*Pesquisador Científico do Instituto Agronômico - IAC

 

Fonte: Afonso Peche Filho

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