Carro elétrico é coisa do ado: o futuro é a cana, por Renato Campos 363g15

Publicado em 05/07/2023 11:48

Na minha época de menino costumávamos imaginar que um dia os carros voariam. Pois bem, alguns bons anos se aram - não vou contar quantos - e carros voadores ainda não são reais. Mas carros que você carrega na tomada de casa sim.  5f716o

Fico impressionado como estamos evoluindo e procurando por mais alternativas sustentáveis e, em questão de anos, surgiu uma alternativa potente e eficiente como o carro elétrico. Mas em meio ao burburinho dessa novidade, não consigo deixar de pensar numa boa e velha alternativa do mercado pouco valorizada por nós, brasileiros: o biocombustível, em especial o etanol. 

Desde que o programa Pró-Álcool surgiu na década de 70 e os incentivos à produção do etanol ganharam corpo, o combustível nacional ganhou fama. É o biocombustível mais bem sucedido na substituição dos fósseis e em 2021, por exemplo, a produção foi de 27 bilhões de litros. Nossa capacidade de geração é bem maior: pode chegar a 50 bilhões. 

Temos capacidade instalada ociosa, mas não temos investimento. O RenovaBio, a Política Nacional de Biocombustíveis que existe desde 2017, foi retomada no fim do mês ado. O que falta então? 

Você pode achar que o etanol é coisa do ado e nisso vamos discordar. Para começar, a geração do combustível verde produz empregos. No ano ado, 1,16 mil novos postos com carteira assinada foram criados no estado de São Paulo para o cultivo de cana de açúcar; no Mato Grosso, a reativação de uma usina deve gerar 650 empregos. 

Outro ponto é o impacto ambiental. Sim, um carro movido a combustão, ainda que utilize etanol, emitirá carbono na atmosfera. Mas aí que está o  pulo do gato: a cana sequestra carbono da atmosfera, tanto que junto ao RenovaBio criou-se o Crédito de Descarbonização (CBio), que são títulos negociados na bolsa em que cada crédito representa uma tonelada de CO² que deixou de ser emitido.

Se um carro fosse abastecido com energia elétrica brasileira – cuja fonte é 85% renovável – por dez anos, ainda poluiria mais que um carro que andasse a base de etanol, segundo um estudo da empresa alemã Mahle. O carro elétrico emitiria 17,6 toneladas de CO² contra 12,1 toneladas de CO² emitidos por um carro a etanol no mesmo período.  

Há quem possa argumentar que a produção de cana com o único e exclusivo propósito de gerar energia é, por si só, uma poluição. Aqui entra o etanol de segunda geração (E2G): o bagaço da planta gera o biocombustível. Nossa produtividade pode aumentar 50% sem aumentar a área de cultivo! E o mercado mundial reconhece essa inovação, que até 2030 pode atingir US$155,6 bilhões, segundo estimativa da consultoria Precedence Research.

Me entristece ver tantas matérias sobre as novidades no mercado automotivo e pouco sobre essa maravilha que é o E2G, pois o futuro, para mim, está onde sempre esteve: na terra. No solo, mais especificamente. 

*Renato Campos é gerente geral da Motocana, empresa de movimentação de carga pesada para diversos setores, inclusive o sucroenergético, há quatro décadas.

Fonte: Renato Campos

NOTÍCIAS RELACIONADAS 391om

Muralha Sanitária, por José Zeferino Pedrozo
Dados preliminares revelam tendências no uso de máquinas agrícolas
Agricultura do futuro depende de sinergia entre tecnologias
Conservação do solo e sua importância para preservar a vida no planeta, por Valter Casarin
Projeções de máquinas agrícolas no Brasil 2030
Benefícios fiscais e estruturação empresarial no Agro: às transformações da Reforma Tributária